Você sabia que existem diferentes tipos de Cannabis? A diversidade dessas variações reforça a versatilidade da planta, ampliando seu uso na medicina.

O uso da Cannabis medicinal é aplicado no tratamento de diversas enfermidades, com eficácia comprovada por uma vasta gama de estudos científicos. Não é por acaso que a planta possui grande relevância para a indústria farmacêutica.

No Brasil, estima-se que, nos próximos três anos, o mercado de Cannabis movimente cerca de R$ 5 bilhões.

Diante dessa expansão, é crucial que o mercado esteja preparado para entender o que significa a incorporação dos compostos derivados da Cannabis em medicamentos e produtos, como óleos e pomadas.

Neste conteúdo, vamos explorar as diferentes subespécies dessa planta fascinante.

Assim como o reino animal é dividido em mamíferos, roedores e aves, os vegetais também possuem classificações distintas. No caso da Cannabis, ela pertence à ordem das Rosales (plantas com flores), a família é a Cannabaceae (a mesma do lúpulo, utilizado na produção de cerveja) e o gênero é Cannabis. Existem três plantas do gênero Cannabis reconhecidas e catalogadas, cada uma com usos específicos e diferentes concentrações de substâncias ativas.

A origem da Cannabis está no continente asiático. Há evidências de que ela é utilizada há pelo menos 6 mil anos, sendo cultivada na vasta região entre a China, Mongólia e o sudeste da Sibéria.

No entanto, há indícios de que a planta seja consumida há cerca de 10 mil anos, desde a Revolução Neolítica, quando o ser humano adotou um estilo de vida sedentário e agrícola.

Os primeiros vestígios do uso da Cannabis com fins medicinais e espirituais vêm desse período remoto.

Em 1578, o livro chinês Pen-Tsao, considerado o mais abrangente da medicina tradicional chinesa, descreveu o uso milenar da Cannabis como planta medicinal, eficaz no tratamento de dores articulares, gota e malária.

Apesar disso, o canabidiol (CBD), um dos principais compostos extraídos da planta para uso medicinal, só foi isolado em 1963 pelo químico búlgaro-israelense Raphael Mechoulam.

Essa descoberta marcou um ponto de virada, inaugurando uma nova era de estudos sobre a Cannabis. A partir de então, a ciência também descobriu o sistema endocanabinoide, responsável por regular diversas funções, incluindo o sistema reprodutivo.

Atualmente, os principais estudos e pesquisas sobre a Cannabis se concentram em três subespécies da planta: Cannabis sativa, Cannabis indica e Cannabis ruderalis.

Embora todas compartilhem a mesma origem, elas se adaptaram a diferentes regiões do mundo, como explica o engenheiro agrônomo Lorenzo Rolim.

Ao longo dos milênios, diversos tipos de Cannabis foram catalogados pela biologia.

Apesar disso, alguns especialistas acreditam que apenas a espécie Cannabis sativa realmente existe. Como explica Rolim, através do sequenciamento genético nuclear, sabe-se hoje que a indica e a ruderalis são subespécies da sativa.

Elas compartilham um centro de origem comum, mas se adaptaram a diferentes regiões ao redor do globo.

Predominantemente encontrada em climas quentes e secos, com longos períodos de sol, como na África, América Central, Sudeste Asiático e partes ocidentais da Ásia.

São plantas altas e esguias, que demoram mais para amadurecer, geralmente com doses mais baixas de CBD e mais elevadas de THC.

A Cannabis indica é originária do Afeganistão, Índia, Paquistão e Turquia, adaptando-se ao clima das montanhas Hindu Kush. São plantas mais baixas e robustas, que crescem mais rapidamente que a sativa, com níveis mais altos de CBD e menos THC.

Existe ainda outra subespécie de Cannabis menos comum, a ruderalis.

Embora não seja amplamente utilizada, pois não produz tantos efeitos, ela se adapta a ambientes extremos, como o Leste Europeu, regiões do Himalaia na Índia, Sibéria e Rússia.

Possui baixo teor de THC e concentrações mais elevadas de CBD, mas pode não ser suficiente para produzir efeitos medicinais significativos.

Dada a variedade de aplicações medicinais das subespécies de Cannabis, é comum surgirem questionamentos sobre as diferenças entre os dois tipos mais populares: sativa e indica.

A primeira diferença notável é na anatomia das plantas, embora sejam bastante parecidas. As folhas da indica, por exemplo, são mais finas e espaçadas. Em termos medicinais, devido à maior concentração de THC, a Cannabis sativa é associada a um efeito mais estimulante.

Por outro lado, com níveis mais elevados de CBD, a indica tem propriedades relaxantes.

Lorenzo Rolim, agrônomo, ressalta que, apesar das características diferentes das subespécies, ainda não há estudos suficientes para afirmar que cada tipo seja específico para tratar determinados sintomas.

Nos últimos anos, Lorenzo Rolim tem se dedicado à pesquisa sobre a Cannabis e o cânhamo industrial, uma variedade da Cannabis ruderalis com diversos usos industriais.

“O Brasil está perdendo uma oportunidade de grande potencial financeiro por falta de vontade política”, comenta Rolim.

O cânhamo pode ser utilizado na fabricação de papel, cordas, óleos, alimentos para animais, resinas, cerveja e combustíveis, entre outros.

O uso da Cannabis não é mais difundido devido ao desconhecimento ou preconceito.

Aqui, não falamos sobre o uso recreativo da maconha, mas sim sobre a utilização da planta para fins medicinais, no combate a uma série de doenças.

Além disso, a Cannabis serve como matéria-prima para a produção de uma ampla gama de produtos e insumos.

A seguir, trazemos mais detalhes sobre os usos medicinal e comercial da planta.

Ampliamente documentado, o uso medicinal da Cannabis tem se mostrado eficaz no tratamento de várias condições de saúde.

Ela pode ser administrada de diversas formas, por diferentes vias. Alguns exemplos incluem:

Devido às diferentes concentrações de substâncias ativas em cada tipo de planta, desenvolveu-se o cultivo da Cannabis híbrida. Isso permite que uma única planta reúna o melhor que cada subespécie tem a oferecer, especialmente em termos de rendimento e tempo de floração.

É importante também considerar o gênero da planta, pois machos, fêmeas ou hermafroditas têm finalidades distintas.