A percepção da planta pelos meus alunos: uma jornada de aprendizado
Redação
Atualizado: 11 abril, 2025 06:35
<p><span style='font-weight: 400;'>Leciono as matérias </span><b>Botânica Econômica</b><span style='font-weight: 400;'>, </span><b>Etnobotânica</b><span style='font-weight: 400;'> e </span><b>Etnofarmacologia</b><span style='font-weight: 400;'> na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), para os cursos de graduação em Ciências Biológicas e Ambientais, desde 2006. Há 19 anos.</span></p>
<p><span style='font-weight: 400;'>Nestas matérias tem sido cada vez mais comum trazer a pauta sobre a planta </span><i><span style='font-weight: 400;'>Cannabis sativa</span></i><span style='font-weight: 400;'>, tanto do ponto de vista das suas propriedades medicinais, aspectos culturais, religiosos, e de sustentabilidade, entre outras.</span></p>
<p><span style='font-weight: 400;'>Nas aulas discutimos sobre a enorme gama de possibilidades terapêuticas dela, mas também o quanto a planta está envolvida em questões ambientais (remediação, fornecimento de fibras para diversos segmentos industriais, como alternativa para a bioenergia, enfim); além dos usos rituais envolvidos, ao longo da história.</span></p>
<h2><span style='font-weight: 400;'>Mas nem sempre foi assim</span></h2>
<p><span style='font-weight: 400;'>Em 2016 foi a primeira vez que eu trouxe para a sala de aula a possibilidade de incluirmos nas avaliações, temas relacionados à planta. </span></p>
<p><span style='font-weight: 400;'>Preciso admitir que fui surpreendida por algum estranhamento! A ideia era dividir a sala em grupos e cada um deveria investigar como era a política, a medicina, os aspectos culturais e legais do uso da planta em cada continente (destacando alguns países). Depois, trazer para discussão na sala de aula. </span></p>
<p><span style='font-weight: 400;'>E para minha surpresa, três dos 10 grupos não quiseram estudar sobre a planta, e escolheram outros temas para seus seminários avaliativos. Eram jovens na faixa dos 20 anos. </span></p>
<p><span style='font-weight: 400;'>O que os fizeram se recusar a estudar e discutir as questões envolvendo a planta? Por outro lado, as discussões junto aos que quiseram investigar o tema, foi maravilhosa! Eu aprendi muito sobre o uso nos outros continentes (países).</span></p>
<h2><span style='font-weight: 400;'>Precisou de bastante persistência minha</span></h2>
<p><span style='font-weight: 400;'>Três anos depois, em 2019, o CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), na pessoa do Prof. Carlini, estava organizando o</span><b> Simpósio Cannabis Terapêutica no Brasil: erros e acertos</b><span style='font-weight: 400;'>, na Faculdade de Direito no Largo São Francisco (USP – Universidade de São Paulo). </span></p>
<p><span style='font-weight: 400;'>Fui convidada por ele para ajudar na organização. e a</span><span style='font-weight: 400;'>chei oportuno convidar meus alunos, para que pudessem participar de um debate nacional que aconteceu naquele evento; tendo a presença e fala de vários ex-presidentes da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Lamentavelmente nenhum aluno se interessou ou foi ao evento.</span></p>
<p><span style='font-weight: 400;'>Mas eu não desisti. </span></p>
<p><span style='font-weight: 400;'>E ano após ano, comecei a levar vídeos do Prof. Sidarta Ribeiro nas salas de aula para que pudéssemos debater o tema, depois de assisti-los. Ainda, procurava recomendar que assistissem ao filme </span><b>ILEGAL: a vida não espera</b><span style='font-weight: 400;'> em casa com os pais e familiares e/ou passava um trecho em sala de aula. </span></p>
<p><span style='font-weight: 400;'>Porque eu sabia que era praticamente impossível assistir àquele filme e não ser “tocado” pelo tema. </span></p>
<p><span style='font-weight: 400;'>Aos poucos, o mundo foi sendo tocado, porque na casa de várias pessoas existem questões de saúde que podem ser favorecidas com o uso adequado dessa planta. E então começou a ficar mais fácil falar do tema em sala de aula, sem um estranhamento por parte dos alunos</span></p>
<h2><span style='font-weight: 400;'>E hoje?</span></h2>
<p><span style='font-weight: 400;'>Se por um lado ainda existem vários alunos que se constrangem em falar sobre a planta, por outro, o diálogo em sala de aula tem promovido mudanças nas suas próprias vidas. </span></p>
<p><span style='font-weight: 400;'>Muitos deles têm buscado médicos para avaliar a possibilidade de seus pais, irmãos, parentes e amigos. Ou até eles mesmos.</span></p>
<p><span style='font-weight: 400;'>Hoje, ao final da minha aula sobre a planta e o </span><span style='font-weight: 400;'>Sistema Endocanabinoide</span><span style='font-weight: 400;'>, já aparece uma fila com três ou quatro alunos pedindo ajuda em busca de suporte para possíveis tratamentos. </span></p>
<p><span style='font-weight: 400;'>Casos de autismo, anorexia, convulsões, ansiedade, depressão, são apenas alguns que me lembro neste momento. Alguns desses alunos me mandam mensagens por </span><i><span style='font-weight: 400;'>whatsapp,</span></i><span style='font-weight: 400;'> ou me encontram ao final da aula, agradecendo pela transformação na vida das suas famílias. </span></p>
<p><span style='font-weight: 400;'>Alguns deles foram tocados com o tema. Tanto que no ano passado, decidiram selecionar artigos científicos, transformá-los em roteiros e fazer vídeos a serem postados no Canal do Youtube e Instagram, CANABinALL: tudo sobre canabinoides. </span></p>
<p><span style='font-weight: 400;'>E isso foi muito potente, porque este é um projeto de extensão da UNIFESP. Então todos devem contribuir, como cidadãos, divulgando os conhecimentos científicos, que não são poucos, e favorecendo a saúde mental e física da nossa sociedade!</span></p>
<p><span style='font-weight: 400;'>A educação sempre foi, e ainda é, a melhor ferramenta de transformação social. E por isso, nós educadores, devemos seguir oferecendo o melhor que podemos.</span></p>
<h2><b>Sobre as nossas colunas</b></h2>
<p>As colunas publicadas na Cannalize não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem o propósito de estimular o debate sobre cannabis no Brasil e no mundo. Além de de refletir sobre diversos pontos de vista sobre o tema.</p>