Canabidiol age diferente em machos e fêmeas, e ciclo hormonal influencia os efeitos

  • Redação
Atualizado: 02 junho, 2025 07:39
<p>A resposta ao canabidiol (CBD) pode ser muito mais complexa do que parece, especialmente quando o corpo em questão é feminino. Uma <a target="_blank" rel="noopener noreferrer" href="https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0166432823003819#sec0120">pesquisa</a> realizada na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP mostrou que, mesmo em animais, os efeitos do CBD variam de acordo com o sexo e, no caso das fêmeas, também são influenciados pelas fases do ciclo reprodutivo.</p><p><br>Sim, o comportamento hormonal das ratas fez toda a diferença nos resultados. E isso, mais do que curioso, é um dado poderoso: porque ajuda a explicar por que tantas mulheres relatam diferentes sensações ao usar medicamentos (inclusive o canabidiol) ao longo do mês.</p><p><br>"Vimos que as flutuações hormonais típicas do ciclo estral, que se assemelha ao ciclo menstrual humano, impactam diretamente a resposta ao CBD", explica Paloma Molina Hernandes, pesquisadora do Laboratório de Farmacologia do Comportamento da FMRP e autora principal do estudo, publicado na revista Behavioural Brain Research.<br>Quando o corpo muda, a mente também sente</p><p><br>Durante o estudo, as ratas foram expostas a situações que simulavam pânico. Em uma dessas experiências, os animais foram colocados em um ambiente com pouca oferta de oxigênio, o suficiente para gerar um comportamento típico de fuga, como saltos desesperados. E foi aí que a ciência se deparou com um detalhe revelador: as fêmeas em uma fase específica do ciclo, o diestro, reagiram de maneira muito mais intensa ao estresse do que os machos ou outras fêmeas em fase de proestro.</p><p><br>Mas quando essas mesmas fêmeas em diestro receberam o canabidiol, a resposta de pânico foi significativamente reduzida. O CBD não teve o mesmo efeito nos demais grupos.</p><p><br>“Isso nos leva a crer que o canabidiol pode ser especialmente eficaz em momentos específicos do ciclo reprodutivo feminino, o que abre portas para investigar seu potencial como tratamento para sintomas como a disforia pré-menstrual, por exemplo”, aponta Paloma. A condição, mais comum do que se imagina, é uma forma severa da conhecida TPM, e causa impacto real na qualidade de vida de muitas mulheres.</p><h2><br>Machos, fêmeas, camundongos e diferenças</h2><p><br>Outro dado interessante veio ao comparar espécies diferentes: enquanto nas ratas o ciclo hormonal influenciou diretamente a resposta ao CBD, nos camundongos fêmeas esse fator não teve o mesmo peso. E mais: nesses animais, as fêmeas precisaram de doses muito mais altas do canabidiol para sentir algum efeito. Já os camundongos machos não responderam ao CBD em nenhum nível.</p><p><br>O motivo? Pode estar no modo como o cérebro dessas espécies regula a progesterona. Enquanto nas ratas há uma variação que acompanha o sangue, nos camundongos, os níveis cerebrais seguem um ritmo próprio, independente da circulação sanguínea. Um pequeno detalhe biológico que muda tudo.</p><h2><br>A importância de olhar para o corpo feminino na ciência</h2><p><br>Apesar de parecer óbvio, a ciência nem sempre considerou essas diferenças biológicas. Na verdade, por muitos anos, as fêmeas foram sistematicamente excluídas dos estudos, tanto em testes com animais quanto em ensaios clínicos com humanos. A justificativa? Evitar as “complicações” causadas pelas oscilações hormonais.</p><p><br>Mas essa exclusão tem um preço: medicamentos menos eficazes (e até perigosos) para mulheres. “Sabemos que as mulheres têm mais chances de sofrer reações adversas a remédios que foram testados majoritariamente em homens”, alerta Paloma. “É por isso que insistimos na inclusão de variáveis sexuais nos estudos".</p><p><br>Políticas públicas como a do NIH (National Institutes of Health, dos EUA), que desde 2014 exige o uso equitativo de machos e fêmeas em estudos pré-clínicos, têm ajudado a corrigir esse desequilíbrio. No Brasil, a tendência é que essas diretrizes também se consolidem.</p><h2><br><a target="_blank" rel="noopener noreferrer" href="https://www.youtube.com/watch?v=7FoqmNFFHfc&amp;list=PLeHWoQnJjVk1ZKt7NiIDLosCCZyyAFmZU&amp;index=35">O que isso nos diz sobre o CBD e a saúde da mulher?</a></h2><p><br>O estudo conduzido pela FMRP é mais uma peça no quebra-cabeça que tenta compreender o impacto do canabidiol no corpo, e mostra que esse impacto é tudo, menos uniforme. Varia entre sexos, espécies, fases do ciclo hormonal e, claro, contextos de saúde física e mental.</p><p><br>Para a ciência, isso é um convite: é preciso ouvir mais o corpo feminino, respeitar suas particularidades e deixar de lado a ideia de que um tratamento serve igualmente para todos. Para quem está do outro lado, mulheres que sofrem com ansiedade, dor, alterações de humor ou disforia pré-menstrual, essa é uma boa notícia: pode haver um caminho promissor no CBD, desde que olhado com atenção, sensibilidade e rigor científico.<br>&nbsp;</p>
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