Cannabis na Doença de Crohn: da ausência de resposta à remissão clínica e estrutural – relato de caso

  • Redação
Atualizado: 31 maio, 2025 13:15
<p>A paciente chegou ao meu consultório com meses de dor abdominal, distensão desconfortável e evacuações frequentes com sangue. Aos 65 anos, já diagnosticada com Doença de Crohn e após diversos tratamentos sem resultados satisfatórios, estava visivelmente desanimada, quase sem esperança de uma melhora.</p> <p>A<a href="https://www.cannabisesaude.com.br/evidencias-cientificas-cannabis-doenca-de-crohn/" target="_blank" rel="noopener"> Doença de Crohn</a> é uma enfermidade inflamatória crônica do trato gastrointestinal, caracterizada por um processo inflamatório ativo que pode afetar qualquer segmento do tubo digestivo, embora seja mais comum no íleo terminal e cólon.</p> <p>Seus sintomas vão além do intestino: dores abdominais recorrentes, diarreia com sangue, perda de peso e fadiga se associam a manifestações extraintestinais e a um impacto funcional significativo. Na minha prática, acredito que a abordagem terapêutica moderna precisa ir além de simplesmente controlar os sintomas — <strong>é necessário modular o processo inflamatório de maneira profunda e restaurar a qualidade de vida do paciente.</strong></p> <p>Este relato ilustra como uma paciente que inicialmente veio à consulta apenas para renovar um guia de encaminhamento para o gastroenterologista terminou, por meio da modulação do <a href="https://www.cannabisesaude.com.br/sec-saude/" target="_blank" rel="noopener">Sistema Endocanabinoide</a>, com remissão total dos sintomas e confirmação, por colonoscopia, do controle da doença. A escolha por um tratamento integrativo transformou o que parecia uma consulta rotineira em um marco clínico decisivo.</p> <h2>Primeira Consulta</h2> <p>A paciente relatava dor abdominal difusa, distensão e entre 5 a 10 evacuações diárias com sangue. Esses sintomas, persistentes por cerca de dois meses, indicavam uma fase ativa da doença.</p> <p>Com um histórico de tratamentos convencionais sem sucesso, ela me confessou que já não acreditava em mais nada — estava ali apenas para solicitar encaminhamento ao gastroenterologista e exames de rotina. Nos últimos dois anos, havia feito vários tratamentos, todos sem êxito. Seu acompanhamento se resumia a exames semestrais de colonoscopia.</p> <p>Após ouvir sua história, decidi sugerir uma abordagem alternativa. Expliquei os possíveis benefícios da Cannabis medicinal, tanto para o controle sintomático quanto para a modulação imunológica da doença.</p> <p>Ela aceitou tentar.</p> <p>Iniciamos com óleo misto na proporção 1:1 (CBD:THC) Full Spectrum, com titulação semanal: 2 gotas por dose na primeira semana (2,1 mg/dia de cada composto), aumentando progressivamente até 8 gotas/dose na quarta semana (8,4 mg/dia de cada composto).</p> <h2>Evolução clínica precoce e endoscopia inicial</h2> <p>Na segunda consulta, um mês depois, ela chegou transformada. Relatou melhora na dor abdominal já no primeiro dia de uso. Em apenas duas semanas, todos os sintomas — inclusive a diarreia com sangue — desapareceram. A melhora funcional e o impacto na qualidade de vida eram evidentes. Ela me trouxe o resultado de sua colonoscopia:</p> <p><img decoding="async" class="alignnone size-medium wp-image-62286" src="https://www.cannabisesaude.com.br/wp-content/uploads/2025/05/antes-1-300x273.jpeg" alt="" width="300" height="273" srcset="https://www.cannabisesaude.com.br/wp-content/uploads/2025/05/antes-1-300x273.jpeg 300w, https://www.cannabisesaude.com.br/wp-content/uploads/2025/05/antes-1-1024x930.jpeg 1024w, https://www.cannabisesaude.com.br/wp-content/uploads/2025/05/antes-1-768x698.jpeg 768w, https://www.cannabisesaude.com.br/wp-content/uploads/2025/05/antes-1-50x45.jpeg 50w, https://www.cannabisesaude.com.br/wp-content/uploads/2025/05/antes-1.jpeg 1440w" sizes="(max-width: 300px) 100vw, 300px" /></p> <p>Apesar da evolução clínica impressionante, o exame realizado nesse mesmo período ainda mostrava inflamação significativa: proctite leve, pancolite erosiva intensa e sinais de doença hemorroidária. Ou seja, a inflamação ainda estava ativa em vários segmentos do intestino. Contudo, isso era esperado, já que a modulação estrutural leva mais tempo para ocorrer do que a resposta clínica. Mantivemos o tratamento e agendamos uma nova avaliação.</p> <h2><strong>Retorno tardio e colonoscopia de comparação (terceira consulta)</strong></h2> <p>Ela só conseguiu retornar sete meses depois, tendo usado o óleo CBD:THC 1:1 por quatro meses, mas interrompido nos últimos três por dificuldades de acesso. Para minha surpresa, manteve-se completamente assintomática durante todo esse período.</p> <p>Ela trouxe uma nova colonoscopia. O resultado foi animador: a inflamação estava mais localizada e menos extensa, com áreas de mucosa preservada. A proctite havia desaparecido, não havia mais sinais de doença hemorroidária e surgiam cicatrizes e pseudopólipos, indicando que o intestino estava se reparando.</p> <p><img loading="lazy" decoding="async" class="alignnone size-medium wp-image-62288" src="https://www.cannabisesaude.com.br/wp-content/uploads/2025/05/depois-1-300x213.jpeg" alt="" width="300" height="213" srcset="https://www.cannabisesaude.com.br/wp-content/uploads/2025/05/depois-1-300x213.jpeg 300w, https://www.cannabisesaude.com.br/wp-content/uploads/2025/05/depois-1-1024x727.jpeg 1024w, https://www.cannabisesaude.com.br/wp-content/uploads/2025/05/depois-1-768x545.jpeg 768w, https://www.cannabisesaude.com.br/wp-content/uploads/2025/05/depois-1-50x35.jpeg 50w, https://www.cannabisesaude.com.br/wp-content/uploads/2025/05/depois-1.jpeg 1326w" sizes="(max-width: 300px) 100vw, 300px" /></p> <h2>Discussão: atuação canabinoide na doença inflamatória intestinal</h2> <p>Esse caso ilustra com clareza o papel dos fitocanabinoides como agentes moduladores do eixo inflamatório intestinal, especialmente quando seus mecanismos de ação são alinhados com a fisiopatologia da Doença de Crohn.</p> <p>Sabemos que, nessa condição, ocorre um desequilíbrio imunológico caracterizado pela ativação exacerbada de células T e liberação de citocinas pró-inflamatórias como TNF-α, IL-6 e IL-17 — uma hiperativação do sistema imune que mantém a inflamação intestinal.</p> <p>O THC, ao ativar os receptores CB1 (no sistema nervoso entérico) e CB2 (nas células imunes), reduz o peristaltismo exacerbado e modula a inflamação, aliviando a dor visceral e controlando a resposta imune. O CBD, por sua vez, inibe diretamente as citocinas inflamatórias e ainda exerce efeito ansiolítico e anti-inflamatório adicional. <strong>Essa combinação ajuda a explicar tanto a melhora clínica precoce quanto a subsequente cicatrização tecidual.</strong></p> <p>A dissociação entre melhora clínica rápida e recuperação estrutural gradual é esperada. O que chama atenção, neste caso, é a manutenção da remissão mesmo após interrupção do tratamento e a melhora evidente na colonoscopia. Isso aponta para um efeito imunomodulador sustentado, mais profundo do que uma simples analgesia.</p> <h2><strong>Conclusão</strong></h2> <p>Este não é apenas um relato de resposta clínica. É, antes, um lembrete de que toda dor que se prolonga sem solução rouba também a esperança, e que parte do nosso papel como médicos é devolver essa esperança com uma abordagem terapêutica racional.</p> <p>Neste caso, a Cannabis medicinal demonstrou não apenas a capacidade de alívio sintomático imediato, mas também teve um impacto mensurável e documentado na estrutura inflamada do intestino — mesmo após a suspensão do uso.</p> <p>Além disso, esse caso fortalece o que tenho observado em pacientes com outras doenças inflamatórias de base autoimune, como Artrite Reumatoide, Espondilite Anquilosante, Artrite Psoriásica e até condições neurológicas como Esclerose Múltipla. São contextos fisiopatológicos em que o eixo inflamatório desregulado se entrelaça com sofrimento crônico e perda de autonomia.</p> <p>Quando trabalhamos com fitocanabinoides de forma estratégica, fundamentada e integrativa, não estamos apenas propondo um alívio de sintomas. Estamos oferecendo uma via real de reequilíbrio sistêmico, capaz de influenciar positivamente a trajetória funcional desses pacientes.</p> <p>Em um cenário ainda marcado por polarizações e reducionismos, reafirmo: a Cannabis medicinal, quando aplicada com precisão e propósito, é uma opção viável e cada vez mais eficaz na reconstrução de trajetórias clínicas que, até então, pareciam sem saída.</p> <p><strong><em>O Portal Cannabis &amp; Saúde publica conteúdos assinados por colunistas especializados, que trazem informações fundamentadas e produzidas com responsabilidade e embasamento científico sobre a Cannabis. Cada colunista é responsável pelo conteúdo de sua coluna, e os direitos autorais dos textos pertencem aos próprios autores.</em></strong></p>
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