Atualizado: 31 maio, 2025 13:14 <p>Fumar ainda é um hábito que atravessa gerações, do cigarro tradicional ao vape, do narguilé ao tabaco aquecido. E, por mais surpreendente que pareça, isso não se restringe apenas a quem tem estilo de vida sedentário. </p><p>Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que mais de 1,1 bilhão de pessoas usam nicotina no mundo, e parte significativa desse público está no universo esportivo, inclusive no de alta performance.</p><p><br>Ao mesmo tempo, cresce a presença da cannabis medicinal na vida de atletas e pessoas comuns em busca de mais qualidade de vida, recuperação muscular e até apoio para abandonar o vício do cigarro. </p><p><br>Mas será que faz sentido comparar essas duas substâncias? O que diz a medicina esportiva sobre seus efeitos no corpo e na mente?</p><p><br>Com sólida experiência clínica e formação em ambas as áreas, Dr. Jimmy Fardin, médico do esporte, pós-graduado em medicina canábica pela Unifesp e prescritor habilitado pela Cannabis Academy, nos trouxe um panorama sobre os riscos e os potenciais da cannabis e da nicotina, e o que isso significa para atletas e não-atletas.</p><p> </p><figure class="image image_resized" style="width:50%;"><img src="https://sechat-images.s3.amazonaws.com/Jimmy_520e7f5cf7.jpg" alt="Jimmy_.jpg" srcset="https://sechat-images.s3.amazonaws.com/thumbnail_Jimmy_520e7f5cf7.jpg 105w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/small_Jimmy_520e7f5cf7.jpg 336w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/medium_Jimmy_520e7f5cf7.jpg 504w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/large_Jimmy_520e7f5cf7.jpg 673w" sizes="100vw" width="673"><figcaption>Dr. Jimmy Fardin explica o potencial de ambas e garante: "a nicotina por ser mais usada, prejudica mais a saúde" | Imagem: Divulgação</figcaption></figure><p><br>Segundo Jimmy, a comparação entre cannabis e nicotina ainda enfrenta obstáculos científicos. “Faltam estudos com metodologia robusta em atletas. Mas, o que já sabemos, é que nenhuma das duas substâncias melhora diretamente o desempenho físico”, pontua.</p><p><br>No entanto, a nicotina carrega um peso específico: o altíssimo potencial de dependência e efeitos cardiovasculares prejudiciais. “Ela provoca vasoconstrição, taquicardia e elevação da pressão arterial, além de alterar a hemodinâmica coronária. Mesmo que não seja diretamente a responsável pelas doenças do tabagismo, sustenta o uso de substâncias tóxicas e cancerígenas presentes no cigarro”, explica o médico.</p><p><br>A WADA (Agência Mundial Antidoping) monitora o uso de nicotina desde 2012. E os dados são impressionantes: entre 25% e 50% dos atletas profissionais de esportes de força e equipe como futebol americano, hóquei, rugby e ginástica consomem nicotina durante as competições. Ainda que seu efeito nootrópico ou ergogênico não tenha sido comprovado, o uso é comum.</p><h2><br>Cannabis medicinal: entre a cautela e o potencial terapêutico</h2><p><br>Ao contrário da nicotina, uma molécula isolada, a cannabis é um verdadeiro “coquetel natural”, com mais de 120 canabinoides identificados e diferentes mecanismos de ação. “O sistema endocanabinoide está presente em diversos tecidos do corpo, e isso gera respostas muito variadas entre os pacientes”, explica Fardin.</p><p><br>Um dos pontos de destaque é o potencial da cannabis para atuar como anti-inflamatório e broncodilatador, o que pode contribuir com a recuperação muscular e respiratória. “Canabinoides como o CBG, o CBD e o THC atuam em receptores distintos e podem modular desde inflamações até o estado emocional do paciente”, afirma.</p><p><br>No entanto, ele faz um alerta importante: “o uso deve ser sempre monitorado. Doses inadequadas podem prejudicar a performance. Por isso, a orientação médica é fundamental.”</p><h2><br>Da dependência à libertação: cannabis no combate ao cigarro</h2><p><br>Uma das possibilidades mais interessantes da cannabis medicinal é o apoio na cessação do tabagismo. E isso não é teoria, é prática clínica. “A cannabis pode atuar em áreas do cérebro ligadas ao sistema de recompensa. O aumento da anandamida, nosso endocanabinoide do ‘bem-estar’, ajuda a reduzir a vontade de fumar. Já vi esse efeito em pacientes amadores que conseguiram abandonar o cigarro”, conta Dr. Jimmy.</p><p><br>Embora ele ainda não tenha observado esse processo em atletas profissionais, os casos em pacientes comuns apontam para um caminho terapêutico promissor.</p><h2><br>A escolha consciente</h2><p><br>Ao fim, Jimmy é enfático: “a nicotina, por ser usada com mais frequência e ter maior potencial de vício, acaba sendo mais prejudicial à saúde. Já a cannabis, se usada com responsabilidade e orientação médica, pode ser uma aliada, tanto na recuperação física quanto na saúde mental”.</p><p><br>Aos poucos, o esporte, assim como a medicina, vai deixando para trás o tabu e abraçando o que a ciência já começa a comprovar: há formas mais saudáveis de cuidar do corpo, da mente e da performance.<br>E isso vale tanto para quem vive da competição quanto para quem só quer subir uma escada sem perder o fôlego. <br> </p>
