Endocanabinoide 2-AG: Como ele é transportado para o cérebro?

  • Redação
Atualizado: 14 junho, 2025 12:21
<p>O sistema endocanabinoide sempre intrigou a ciência. Enquanto sabemos que ele regula diversas funções vitais do organismo — como sono, humor, apetite e dor —, muitas dúvidas permanecem sobre os mecanismos específicos por trás da sua atuação. Uma dessas lacunas era: <strong>como exatamente os endocanabinoides são liberados e transportados entre as células?</strong> Vamos entender com o endocanabinoide 2-AG.</p> <p>Foi justamente essa pergunta que motivou o estudo publicado em janeiro de 2025 pela revista <em>PNAS</em>, intitulado <a href="https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39977325/" target="_blank" rel="noreferrer noopener"><em>“The endocannabinoid 2-arachidonoylglycerol is released and transported on demand via extracellular microvesicles”</em></a>. A pesquisa apresenta um novo modelo para explicar o comportamento do 2-AG, um dos principais endocanabinoides do corpo humano, e pode representar uma virada de chave na forma como compreendemos esse sistema tão complexo.&nbsp;</p> <div style="height:30px" aria-hidden="true" class="wp-block-spacer"></div> <h2 class="wp-block-heading">O que é o endocanabinoide 2-AG? </h2> <p>O 2-arachidonoylglicerol (2-AG) é um dos dois principais endocanabinoides conhecidos, ao lado da anandamida. Ele é um lipídio sinalizador que atua como agonista dos receptores CB1 e CB2, presentes em diversas regiões do corpo, especialmente no cérebro. Seu papel é fundamental na regulação de processos como neurotransmissão, inflamação e neuroplasticidade.&nbsp;</p> <p>Diferentemente dos neurotransmissores clássicos, o 2-AG não é armazenado em vesículas pré-sinápticas, mas sim produzido sob demanda, ou seja, em resposta a estímulos específicos. No entanto, até recentemente, pouco se sabia sobre como ele era liberado e transportado — lacuna que o novo estudo pretende preencher. </p> <div style="height:30px" aria-hidden="true" class="wp-block-spacer"></div> <h3 class="wp-block-heading">Como os endocanabinoides são tradicionalmente compreendidos? </h3> <p>A visão mais aceita até então era a do modelo de produção e liberação sob demanda, segundo o qual os endocanabinoides são sintetizados apenas quando necessários e se difundem livremente pela membrana celular até alcançar os receptores canabinoides.&nbsp;</p> <p>Três principais hipóteses explicavam o transporte:&nbsp;</p> <ol start="1" class="wp-block-list"> <li>Difusão passiva pela membrana lipídica </li> <li>Transporte facilitado por proteínas específicas </li> <li>Liberação por vesículas extracelulares </li> </ol> <div style="height:30px" aria-hidden="true" class="wp-block-spacer"></div> <ol start="2" class="wp-block-list"></ol> <ol start="3" class="wp-block-list"></ol> <p>Essas hipóteses, no entanto, geravam contradições. A difusão passiva, por exemplo, não explicava totalmente a direcionalidade e regulação da sinalização endocanabinoide, e os dados sobre transportadores ainda são inconclusivos.&nbsp;</p> <p>Para entender melhor essas rotas, vale conferir nosso artigo sobre <a href="https://kayamind.com/como-funciona-o-sistema-endocanabinoide/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">como funciona o sistema endocanabinoide</a>. </p> <div style="height:30px" aria-hidden="true" class="wp-block-spacer"></div> <h3 class="wp-block-heading">O modelo “on-demand release” proposto pelo novo estudo </h3> <figure class="wp-block-image alignleft size-full is-resized"><img fetchpriority="high" decoding="async" width="600" height="450" src="http://kayamind-minio.aqrour.easypanel.host/wordpress/2025/05/Endocanabinoide-2-AG.png" alt="Endocanabinoide 2-AG" class="wp-image-24566" style="width:400px"/></figure> <p>A pesquisa liderada por cientistas do CNRS e da Universidade de Estrasburgo propõe um modelo complementar: o da liberação sob demanda mediada por microvesículas extracelulares.&nbsp;</p> <p>Utilizando uma combinação de tecnologias de ponta — sensores fluorescentes específicos para endocanabinoides (GRAB-eCB2.0), co-culturas celulares e modelagem matemática — os pesquisadores descobriram que neurônios liberam microvesículas contendo exclusivamente 2-AG (e não anandamida) em resposta a estímulos específicos.&nbsp;</p> <p>Esse processo é dependente da ativação de proteínas como a diacilglicerol lipase (DAGL), a proteína quinase C (PKC) e a Arf6, uma GTPase envolvida na formação de vesículas. A liberação também foi sensível a inibidores de difusão de endocanabinoides, o que indica um sistema regulado e não aleatório.&nbsp;</p> <p>O estudo observou que cada vesícula carrega cerca de 2.000 moléculas de 2-AG, o que mostra uma capacidade significativa de sinalização — com potencial para modular processos como plasticidade sináptica de maneira altamente controlada. </p> <div style="height:30px" aria-hidden="true" class="wp-block-spacer"></div> <h3 class="wp-block-heading">O papel das microvesículas no transporte de Endocanabinoide 2-AG </h3> <p>As microvesículas extracelulares (MVs) são pequenas estruturas derivadas da membrana plasmática, diferentes das vesículas sinápticas clássicas. Elas funcionam como mensageiras celulares, transportando lipídios, proteínas e RNAs entre células.&nbsp;</p> <p>No contexto do sistema endocanabinoide, a descoberta de que o 2-AG pode ser encapsulado e transportado por MVs revoluciona nossa compreensão sobre como ele atua nos <a href="https://kayamind.com/receptores-canabinoides-entenda-como-funciona/" target="_blank" rel="noreferrer noopener"><strong>receptores canabinoides</strong></a>.&nbsp;</p> <p>Esse tipo de transporte:&nbsp;</p> <ul class="wp-block-list"> <li>Garante proteção contra degradação enzimática; </li> <li>Permite sinalização direcionada e eficiente; </li> <li>Pode modular efeitos em áreas específicas do cérebro. </li> </ul> <div style="height:30px" aria-hidden="true" class="wp-block-spacer"></div> <h2 class="wp-block-heading">Implicações para a neurociência e o sistema endocanabinoide </h2> <p>A proposta do modelo “on-demand release” complementa e amplia o conceito anterior de produção sob demanda. O mais interessante é que, ao mostrar que vesículas podem transportar lipídios sinalizadores como o 2-AG, o estudo coloca o sistema endocanabinoide lado a lado com os sistemas clássicos de neurotransmissão, como o glutamato ou GABA, mas com uma linguagem biológica própria e altamente refinada.&nbsp;</p> <p>Isso abre espaço para novas interpretações sobre como a cannabis e seus derivados atuam no cérebro, sobretudo em relação ao <a href="https://kayamind.com/cbd-fitocanabinoides/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">CBD</a> e <a href="https://kayamind.com/thc-fitocanabinoides/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">THC</a>. Se a sinalização endocanabinoide pode ser feita por vesículas, então terapias que interferem na formação ou liberação dessas estruturas podem ter efeitos mais precisos e menos invasivos.&nbsp;</p> <p>Para entender melhor esse impacto, recomendamos nosso artigo sobre <a href="https://kayamind.com/estudo-sobre-cannabis-e-funcoes-cognitivas/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">cannabis e funções cognitivas</a> e também este sobre <a href="https://kayamind.com/sistema-nervoso-central-e-cbd/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">o papel do CBD no sistema nervoso central</a>. </p> <div style="height:30px" aria-hidden="true" class="wp-block-spacer"></div> <h2 class="wp-block-heading">O que a descoberta do Endocanabinoide 2-AG muda na prática? </h2> <ul class="wp-block-list"> <li>Reforça o papel do 2-AG como sinalizador lipídico sofisticado </li> <li>Aponta para novas rotas farmacológicas: em vez de estimular os receptores, poderíamos estimular a liberação de vesículas contendo 2-AG </li> <li>Ajuda a compreender disfunções associadas a deficiências endocanabinoides, como <a href="https://kayamind.com/ansiedade-e-cannabis/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">ansiedade</a>, <a href="https://kayamind.com/uso-de-canabidiol-para-epilepsia/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">epilepsia</a>, <a href="https://kayamind.com/cannabis-e-parkinson/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Parkinson</a> e <a href="https://kayamind.com/cannabis-para-dor-cronica/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">dor crônica</a> </li> </ul> <div style="height:30px" aria-hidden="true" class="wp-block-spacer"></div> <p>Além disso, ao detalhar os mecanismos moleculares com precisão, o estudo fortalece a <strong>legitimidade científica do sistema endocanabinoide</strong>, ainda frequentemente ignorado ou subestimado pela medicina tradicional.&nbsp;</p> <p>Se você se interessa por avanços nesse campo, vale conferir nossa análise sobre <a href="https://kayamind.com/pesquisadores-de-cannabis-e-divulgacao-cientifica/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">pesquisadores e divulgação científica sobre cannabis</a>. </p> <div style="height:30px" aria-hidden="true" class="wp-block-spacer"></div> <h2 class="wp-block-heading">Próximos passos e desafios </h2> <p>Apesar dos achados promissores, ainda há lacunas a serem exploradas:&nbsp;</p> <ul class="wp-block-list"> <li><strong>Validação in vivo</strong>: a maior parte do estudo foi feita em coculturas celulares, e agora é necessário confirmar o modelo em organismos vivos. </li> <li><strong>Compreensão da ausência de anandamida nas vesículas</strong>: por que só o 2-AG aparece nessa forma de transporte? </li> <li><strong>Exploração terapêutica</strong>: como controlar a formação de vesículas para fins medicinais? </li> </ul> <div style="height:30px" aria-hidden="true" class="wp-block-spacer"></div> <figure class="wp-block-image alignright size-full is-resized"><img decoding="async" width="600" height="450" src="http://kayamind-minio.aqrour.easypanel.host/wordpress/2025/05/Proximos-passos.png" alt="Próximos passos" class="wp-image-24567" style="width:400px"/></figure> <p>São perguntas que vão guiar os próximos anos de pesquisa sobre o sistema endocanabinoide e a biologia das vesículas extracelulares.&nbsp;</p> <p>O estudo publicado na <em>PNAS</em> em janeiro de 2025 representa um marco na pesquisa sobre endocanabinoides. Ao demonstrar que o <strong>2-AG pode ser liberado e transportado sob demanda via microvesículas extracelulares</strong>, ele oferece um novo modelo de sinalização que combina precisão, regulação e sofisticação biológica.&nbsp;</p> <p>A descoberta aprofunda nossa compreensão sobre o sistema endocanabinoide e pode abrir caminhos para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes, seguros e específicos. </p> <div style="height:30px" aria-hidden="true" class="wp-block-spacer"></div> <p>Quer continuar aprendendo sobre os avanços da cannabis medicinal e os caminhos da ciência? Acesse gratuitamente o <a href="https://kayamind.com/anuario-da-cannabis-medicinal-2024/" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Anuário da Cannabis Medicinal no Brasil 2024</a> e fique por dentro dos dados, estudos e oportunidades que estão transformando o mercado e a medicina. </p> <p>O post <a href="https://kayamind.com/estudo-sobre-endocanabinoide-2-ag/">Endocanabinoide 2-AG: Como ele é transportado para o cérebro?</a> apareceu primeiro em <a href="https://kayamind.com">Kaya Mind - Informações sobre o mercado da cannabis</a>.</p>
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