Estudo da UnB avalia padrão de qualidade de produção artesal de cannabis medicinal
Atualizado: 31 maio, 2025 13:14 <p>Uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) revelou que a produção artesanal de cannabis medicinal pode atingir padrões farmacêuticos de qualidade, com precisão nos canabinoides, compatível com os requisitos terapêuticos exigidos por farmacopeias nacionais e internacionais. O estudo amplia as possibilidades para associações, pacientes e pesquisadores brasileiros que atuam fora da indústria.</p><p> </p><h2>O que é o “Método Herbalista”?</h2><p> </p><figure class="image image-style-side"><img alt="_W6A7706.JPG" src="https://sechat-images.s3.amazonaws.com/W6_A7706_d777251508.JPG" srcset="https://sechat-images.s3.amazonaws.com/thumbnail_W6_A7706_d777251508.JPG 88w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/small_W6_A7706_d777251508.JPG 282w" sizes="100vw" width="282"><figcaption>Pedro Nicoletti, responsável pela pesquisa. Imagem: Arquivo pessoal</figcaption></figure><p>Utilizando extratos nativos de espectro completo e equipamentos acessíveis, a técnica permite a padronização dos principais compostos da cannabis — como o THC e o CBD — sem depender de estruturas industriais. Batizado de “Método Herbalista”, o processo foi idealizado pelo pesquisador Pedro Nicoletti, que propõe a criação de Derivados Fitocomplexos Combinados (DFC), com perfis químicos controlados a partir dos chamados Extratos Nativos Completos (ENC).</p><p>Inspirado por práticas tradicionais de composição de fitoterápicos, o método utiliza fundamentos da ciência da formulação e atende às exigências das farmacopeias brasileira e europeia.</p><p>“A qualidade em precisão e consistência não é exclusividade da indústria”, afirma Nicoletti. “É possível alcançar rigor técnico com simplicidade, oferecendo respaldo científico a pequenos produtores, farmácias de manipulação e associações que enfrentam barreiras regulatórias desproporcionais”, continua.</p><p> </p><h2>Validação científica e impacto regulatório</h2><p> </p><figure class="image"><img alt="IMG_20240930_224229 (1).jpg" src="https://sechat-images.s3.amazonaws.com/IMG_20240930_224229_1_884a234744.jpg" srcset="https://sechat-images.s3.amazonaws.com/thumbnail_IMG_20240930_224229_1_884a234744.jpg 245w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/small_IMG_20240930_224229_1_884a234744.jpg 500w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/medium_IMG_20240930_224229_1_884a234744.jpg 750w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/large_IMG_20240930_224229_1_884a234744.jpg 1000w" sizes="100vw" width="1000"><figcaption>Pedro Nicoletti trabalhando no laboratório AQQUA</figcaption></figure><p> </p><p>O método foi testado no laboratório AQQUA, do Instituto de Química da UnB, e validado pelo laboratório Central Crom, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Os resultados demonstraram consistência e reprodutibilidade, mesmo sem processos industriais como refino ou separação molecular.</p><p>A primeira etapa da pesquisa foi realizada sem financiamento externo, com apoio de uma bolsa do CNPq, mas Nicoletti busca parcerias para expandir os testes e reforçar a robustez científica do método. “Pretendo contar com meus alunos do programa de capacitação e com universidades parceiras para ampliar os estudos”, destaca o pesquisador.</p><p> </p><h2>Consistência, descentralização e legitimidade científica</h2><p> </p><figure class="image image_resized image-style-side" style="width:49.09%;"><img class="image_resized" src="https://sechat-images.s3.amazonaws.com/IMG_20240930_215944_c8c8bccb95.jpg" alt="IMG_20240930_215944.jpg" srcset="https://sechat-images.s3.amazonaws.com/thumbnail_IMG_20240930_215944_c8c8bccb95.jpg 109w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/small_IMG_20240930_215944_c8c8bccb95.jpg 351w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/medium_IMG_20240930_215944_c8c8bccb95.jpg 527w, https://sechat-images.s3.amazonaws.com/large_IMG_20240930_215944_c8c8bccb95.jpg 703w" sizes="100vw" width="703"></figure><p>Uma das principais críticas à produção artesanal, a falta de consistência entre lotes, foi rebatida no estudo. Nicoletti analisou discursos públicos e concluiu que a inconsistência decorre da falta de pesquisa, e não de falhas estruturais da produção artesanal.</p><p>“O método dá previsibilidade aos marcadores químicos dos extratos, rompendo o ciclo vicioso que deslegitima a produção local por ausência de dados — justamente causada pela falta de investimento em pesquisa”, argumenta.</p><p>Com essa padronização, os extratos artesanais podem ser utilizados em ensaios clínicos, o que fortalece a base científica para comprovar sua eficácia terapêutica.</p><p> </p><h2>Manual e ensaios clínicos</h2><p> </p><p>Ainda neste primeiro semestre de 2025, será lançado um manual prático do “Método Herbalista”, reunindo fundamentos científicos e protocolos acessíveis a associações, farmácias e produtores autônomos.</p><p>“Esse livro será uma ferramenta de autonomia para quem busca qualidade sem depender da indústria”, diz Nicoletti.</p><p>Mesmo exigindo etapas laboratoriais complementares, a metodologia já permite a realização de estudos clínicos com extratos não industrializados, o que representa um avanço estratégico para a legitimação científica da produção artesanal no Brasil.</p><p> </p><h2>Cultura canábica, ciência e regulação inclusiva</h2><p> </p><p>O “Método Herbalista” também se alinha aos princípios da cultura canábica de legado, que valoriza práticas comunitárias e saberes tradicionais. “O que desenvolvemos é uma tecnologia social: uma ponte entre o saber tradicional e os critérios da ciência moderna. A proposta é de uma regulação inclusiva, conectada com a realidade brasileira, nossa biodiversidade e cultura científica”, afirma Nicoletti.</p><p>Ele reforça que o objetivo não é transferir o monopólio da cannabis a grandes grupos — nacionais ou estrangeiros — mas sim descentralizar o conhecimento e a capacidade de produção.<br> </p>