Nova terapia psicodélica aprovada em Nevada traz esperança para veteranos e socorristas
- Redação

Num momento em que os debates sobre saúde mental ganham força nos Estados Unidos, o estado de Nevada se posiciona na vanguarda ao aprovar um projeto de lei que cria um programa piloto para o uso terapêutico de psicodélicos, com foco especial em veteranos militares e socorristas.
A medida foi aprovada pelo Comitê de Saúde e Serviços Humanos da Assembleia e pode marcar um novo capítulo na forma como tratamos transtornos mentais graves, como depressão resistente e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
A proposta, conhecida como AB 378, é de autoria do deputado Max Carter (Democrata), e autoriza o uso controlado de substâncias como psilocibina, DMT, ibogaína e mescalina, desde que administradas sob supervisão médica e dentro de um contexto clínico.
A justificativa central do projeto é clara: proporcionar alívio e qualidade de vida a quem convive com condições de saúde mental debilitantes. De forma pioneira, a legislação abre espaço para que veteranos e profissionais de emergência, que são grupos altamente expostos a traumas, possam se beneficiar desses tratamentos, hoje ainda criminalizados em diversos estados e países.
Durante as audiências públicas, o deputado compartilhou uma história íntima e comovente. Ele revelou ter encontrado alívio na terapia com cetamina (ainda não contemplada pelo projeto) após vivenciar um luto profundo e um quadro severo de TEPT. “Essa terapia me salvou. Quero que outras pessoas tenham essa chance também”, declarou o deputado emocionado.
A escolha do público-alvo não foi por acaso. “Veteranos e socorristas são grupos com taxas de suicídio alarmantes. Se conseguirmos ajudá-los, estaremos salvando vidas”, completou o parlamentar, que acredita que, em dois anos, essa abordagem será vista como terapia convencional.
Antes da aprovação, o texto da proposta passou por emendas. Uma delas amplia a elegibilidade ao substituir o critério de “dispensa geral” por “dispensa honrosa” para os veteranos, o que ocasiona em uma mudança que busca ser mais inclusiva, embora ainda enfrente críticas.
O deputado Ken Gray (Republicano) alertou para o risco de excluir justamente aqueles que mais precisam: os veteranos que foram afastados do serviço por condutas relacionadas ao próprio TEPT. “Muitos foram punidos por comportamentos que derivam de suas condições mentais. Não podemos deixá-los para trás”, disse.
O projeto também prevê que o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (DHHS) seja responsável por regulamentar o programa e criar planos de cuidados contínuos. Há, ainda, uma cláusula que protege o próprio departamento e seus funcionários de qualquer responsabilidade legal sobre os resultados do tratamento.
Outro ponto relevante do projeto é a autorização para que o DHHS licencie pelo menos uma pessoa ou instituição para cultivar, fabricar ou produzir as substâncias psicodélicas destinadas ao programa.
Segundo Kate Cotter, diretora da Coalizão de Medicamentos Psicodélicos do Estado de Nevada, o mais provável é que a produção ocorra por meio de parceria com entidades privadas ou universidades licenciadas.
Diane Goldstein, policial aposentada e diretora do grupo Law Enforcement Action Partnership (LEAP), também participou da audiência e foi enfática: “Não é mais uma questão de ‘se’, mas de ‘quando’. Já está claro que precisamos agir com urgência e responsabilidade”, pontuou.
O avanço da AB 378 não é um ato isolado. Em paralelo, o Senado estadual aprovou uma resolução, a SJR 10, que pede ao Congresso dos EUA a reclassificação de substâncias psicodélicas como psilocibina, DMT e MDMA, reconhecendo seu potencial terapêutico e baixo risco de abuso quando utilizadas sob supervisão médica.
A senadora Rochelle Nguyen (Democrata), coautora da resolução, reforçou: “essa é uma mensagem clara de que Nevada está pronta para liderar. Precisamos que Washington ouça nossos profissionais, nossos cientistas e nossas comunidades”.
O que está em curso em Nevada é mais do que a aprovação de um projeto de lei. É a construção de um novo paradigma sobre saúde mental, ciência e políticas públicas. Ao dar um passo em direção ao uso terapêutico dos psicodélicos, o estado acolhe a dor de quem, por muito tempo, foi ignorado ou maltratado pelo sistema tradicional.
Se a proposta for implementada com responsabilidade, poderá não apenas salvar vidas, mas também inspirar outros estados, e quem sabe outros países a repensarem suas abordagens sobre tratamentos alternativos, baseados em evidências e centrados no cuidado humano.
Fonte: Sechat.
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