O renascimento das drogas alucinógenas sob a luz da ciência
Redação
Atualizado: 15 julho, 2025 00:09
<p>Há substâncias que não apenas mexem com os sentidos, elas abrem portais e nos convidam a sair de nós para, paradoxalmente, nos vermos melhor. </p><p><br>As drogas alucinógenas, por muito tempo demonizadas e lançadas à sombra da ilegalidade, voltam agora à roda das discussões, não mais como símbolos de rebeldia, mas como possíveis aliadas da saúde mental. A ciência, com sua lupa curiosa e olhos menos julgadores, começa a enxergar nessas substâncias não um risco, mas uma chance de cura.</p><p><br>Desde a chamada “guerra às drogas”, declarada há mais de 50 anos nos Estados Unidos, a narrativa dominante foi a do medo. Mas hoje, em hospitais, laboratórios e consultórios, pesquisadores estão abrindo espaço para uma nova história: a dos benefícios terapêuticos dos psicodélicos, que começam a ser estudados com mais profundidade para tratar transtornos como ansiedade, depressão, TEPT e até dependência química.</p><h2><br>Alucinar não é fugir, é sentir diferente</h2><p><br>Alucinógenos são substâncias que nos desafiam a perceber o mundo sob outra luz. Podem alterar visão, audição, tato, olfato. Podem nos desconectar do que chamamos de “realidade” para, quem sabe, religar outras verdades internas.</p><p><br>Esses compostos se dividem, em linhas gerais, em dois grupos:<br>Os clássicos – como LSD, psilocibina (dos cogumelos mágicos), DMT, peiote e ayahuasca – atuam principalmente no sistema da serotonina, neurotransmissor que regula humor, bem-estar e conexão com o mundo.</p><p><br>Já os dissociativos, como a cetamina, ibogaína e PCP, alteram a ação do glutamato, importante para memória, aprendizado e percepção da dor. Muitas vezes, também mexem com a dopamina, a química da euforia.</p><h2><br>No cérebro, sementes de lucidez</h2><p><br>Os efeitos dessas drogas são profundos porque atingem áreas-chave do cérebro. No caso dos alucinógenos clássicos, o córtex pré-frontal, responsável por decisões, controle emocional e planejamento, passa a funcionar de forma diferente. Isso pode nos levar a perceber antigas dores sob novas perspectivas. Um trauma, que antes doía como um grito abafado, pode ser revisto com compaixão e leveza.</p><p><br>Nos dissociativos, o que se vê é um desligamento dos padrões normais de percepção. A realidade se desfaz em fragmentos, e ali, entre os cacos, pode surgir um novo olhar.<br>É como se, por instantes, a mente deixasse de andar em círculos viciados para explorar caminhos antes inexplorados.</p><h2><br>Psicoterapia e psicodélicos: uma dupla que dança</h2><p><br>“O remédio é só metade da história”, dizem os especialistas. Psicodélicos, quando usados com suporte psicoterapêutico, ganham ainda mais potência. É nesse espaço seguro, guiado por profissionais capacitados, que experiências intensas se transformam em cura.</p><p><br>Substâncias como MDMA, psilocibina e ayahuasca já mostraram resultados promissores na redução de sintomas de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático. Mas mais do que isso: ajudaram pessoas a reconectar-se consigo mesmas e com o mundo.</p><h3><br>Espiritualidade: a ciência também se curva ao invisível</h3><p><br>Um estudo recente da Dra. Adele Lafrance, da Universidade Laurentian, no Canadá, mostrou que participantes de experiências psicodélicas relataram maior conexão espiritual e melhor regulação emocional. “Talvez estejamos subestimando o papel da espiritualidade no processo de cura”, disse ela.</p><p><br>E talvez seja esse o fio que une ciência e alma: a coragem de aceitar que nem tudo se mede em números. Algumas curas vêm com lágrimas, visões, abraços internos. Vêm no silêncio depois da tempestade sensorial.</p><p><br>É claro: os riscos existem, o uso recreativo indiscriminado pode ser perigoso, e ainda há muito a ser estudado. Mas ignorar os potenciais terapêuticos das drogas alucinógenas seria fechar os olhos para uma revolução silenciosa que já começou.</p><p><br>Não se trata de estimular o consumo, mas de abrir caminhos. Trilhar, com responsabilidade, a trilha do que pode, sim, ser transformador.<br> </p><p>Com informações de <a target="_blank" rel="noopener noreferrer" href="https://elplanteo.com/">El Planteo</a>.</p>