Política antidrogas no Paraguai: desaparecimento de 770 quilos de maconha revela contradições

  • Redação
Atualizado: 19 abril, 2025 05:07
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O desaparecimento recente de 770 quilos de maconha do escritório regional da Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) em Saltos del Guairá coloca em cheque a eficácia da política antidrogas no Paraguai. Enquanto o Estado persegue e destrói plantações de cannabis, instituições encarregadas do combate ao narcotráfico se veem envolvidas em irregularidades que expõem falhas no sistema.
Uma apreensão que desapareceu
A carga desaparecida foi detectada durante uma pesagem antes da incineração, gerando um escândalo que levou o Ministério Público a realizar uma operação na sede da SENAD. Apesar das apreensões de celulares e do DVR das câmeras de segurança, ainda não há explicações claras sobre o sumiço da droga.
Esse incidente evidencia a contradição de um sistema que, ao perseguir pequenos produtores de cannabis, falha em garantir transparência na gestão das apreensões. O caso reacende o debate sobre a eficácia real do combate ao narcotráfico ou se simplesmente administra um negócio que continua operando na clandestinidade.
A paradoxa de destruir uma indústria bilionária
Nos últimos 18 meses, a SENAD destruiu mais de 3.000 hectares de maconha, avaliados em USD 321 milhões. Esse valor é quase 30 vezes superior ao orçamento anual da SENAD, estimado em USD 10,6 milhões para 2024.
Enquanto o Paraguai investe na erradicação dessas plantações, países como Estados Unidos, Canadá e Alemanha optaram pela regulamentação da cannabis, alcançando resultados econômicos positivos. Nos EUA, a indústria da cannabis já gerou mais de USD 100 bilhões em impostos e mais de um milhão de empregos diretos.
O potencial de uma indústria regulamentada
O Paraguai é um dos maiores produtores regionais de maconha, porém toda a produção é destinada ao mercado ilegal. Legalizar e regulamentar a cannabis poderia transformar essa atividade em uma indústria formal com grandes benefícios econômicos.
  • Aproximadamente 30.000 hectares são cultivados anualmente.
  • Cada hectare produz pelo menos 1.000 quilos.
  • Com um preço de USD 15 por grama e duas colheitas anuais, o mercado poderia atingir USD 450 bilhões.
  • Aplicando um imposto de 18%, o Estado poderia arrecadar até USD 81 bilhões anuais, superando o orçamento de várias instituições públicas.
Corrupção e o custo da ilegalidade
A operação na SENAD em Saltos del Guairá revela uma preocupante falta de controle interno. Todos os funcionários tinham acesso à carga apreendida e, segundo depoimentos, "tudo estava normal" até a pesagem final. Esse tipo de irregularidade mostra que a proibição da cannabis alimenta a corrupção e o enriquecimento ilícito dentro das estruturas estatais.
Regularizar a produção e comercialização da cannabis não incentiva o consumo desenfreado, mas transforma um problema em uma oportunidade econômica. Com uma legislação apropriada, o Paraguai poderia gerar empregos formais, arrecadar impostos e reduzir os custos associados à luta contra um negócio que claramente já opera no país.
Fonte: Sechat.
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